Pormenores...


Fala-se do “Cristianismo” como se fosse uma coisa única e especifica… uma entidade coerente, homogénea e unificada. Analisando os vários tipos de crenças – desde as mais dogmáticas e conservadoras ás mais radicais e arrebatadas –, é difícil determinar exactamente em que consiste o “Cristianismo”.
O factor único que une os credos cristãos, de interpretações diversas e divergentes será o "Novo Testamento". Será o factor que nos permitirá falar em “Cristianismo”, em particular pelo estatuto único atribuído a Jesus, á sua Crucificação e Ressurreição.
[…segundo diversos prelados, académicos e teólogos a interpretação literal da doutrina da ressurreição terá a ver com a atracção psicológica que ela exerce sobre os nossos receios mais profundos… justificando a sua desmistificação através de interpretações simbólicas…]

Os relatos sobre Jesus, conhecidos como os Quatro Evangelhos (os canónicos), são popularmente encarados como os mais autorizados, e para muitos cristãos são aceites como coerentes e inimpugnáveis. Os alegados autores dos Evangelhos – Marcos, Mateus, Lucas e João –, serão testemunhas incontestáveis, que reforçam e confirmam o testemunho uns dos outros… (mas será na realidade assim?)
[… das pessoas que hoje em dia se intitulam cristãs, relativamente poucas estarão conscientes do facto de que, não só os Quatro Evangelhos se contradizem como, por vezes discordam violentamente…]

As descrições da personalidade e carácter de Jesus serão um exemplo da falta de convergência de opiniões… dando a ideia de que a figura retratada por uns, será uma figura diferente da figura retratada por outros:
Jesus é um humilde salvador, dócil como um cordeiro… em Lucas;
… e um soberano poderoso e majestoso… em Mateus; que não vem “trazer paz, mas espada”…

Existe também desacordo quanto ás últimas palavras de Jesus na cruz:
Em Mateus e Marcos… “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
Em Lucas… “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.”
Em João… “Está consumado.”

Perante estas discrepâncias, os Evangelhos só podem ser aceites como tendo uma autoridade altamente questionável, e certamente não como definitivos.

Comentários

Maria João disse…
Os Evangelhos não se contradizem.
A mensagem principal é que Jesus veio ao mundo para nos salvar e mostrar que a política "olho por olho, dente por dente", que era falsamente atribuída a Deus, deveria dar lugar ao princípio "amai-vos uns aos outros".

Quando Jesus veio à Terra, Ele era homem. Igual a todos, menos no pecado. Mas, sofreu como qualquer ser humano. Daí ter dito "Porque me abandonaste?". Isto mostra como todos fomos feitos para a vida e não para a morte.

O facto de uns evangelistas terem focado mais uma questão ou outra, isso não significa que haja incoerência. É a mesma coisa que eu ir fazer uma reportagem. Os factos têm de lá estar, mas trabalho a reportagem a partir de certos ângulos, enquanto que outra pessoa pode tratar de outro, tendo em conta a experiência de vida de cada uma. Mas, lá está, os factos estão lá. Em todos os Evangelhos se mostra que JEsus sofreu a agonia da morte e que pediu ao Pai que lhe tirasse aquele cálice. Fazendo uma análise dos quatro Evangelhos, todos eles se complementam. Não se contradizem.

Quanto ao ser dócil, poderoso e majestoso, isso não tem nada de incoerência. Jesus apelou ao Amor e a sua majestade é mencionada por se acreditar que Ele é Filho de Deus. O poder vem daí. Mas, não é poder de força que conduz ao mal. Caso contrário, Ele não apelava ao amor e não dava a mão aos marginalizados da sociedade.
Quanto à parte de trazer a espada, isso é dito, como se pode confirmar na Bíblia, porque Jesus ao trazer a mensagem de Amor, provocou grandes problemas junto daqueles que preferiam a política de condenação. Como se pode ler, Jesus ia ter com os marginalizados da sociedade, ao contrário dos poderosos do império. Isso na altura era extremamente escandaloso e um perigo para o império, porque o imperador sabia que esses gestos de amor iriam provocar mudanças a nível político que o iria prejudicar.

Quando digo isto, digo-o tendo em conta toda a Bíblia. Não apenas algumas passagens. Como qualquer livro, deve ser analisada como um todo.

Agora, se há outros evangelhos. Provavelmente...Não digo que não. Mas, admito que me faz bastante confusão ver que há evangelhos, como o de S. Tomé, que tanto afirma que Jesus é muito bom, como dá exemplos que Ele amaldiçoa as pessoas, que à Sua palavra caiem mortas no chão.

Um abraço,
MJ
nahar disse…
santa liberdde dos filhos de Deus, mas enfim com tanto disparate nao podia deixar aqui uma marca mesmo...para quem lê a bilbia e os evangelhos de uma forma historicista é obvio que vai encintrar diferenças....a biblia não é um romance...
Anónimo disse…
MJ
Brevemente responderei aos teus comentários...
Até breve
Anónimo disse…
Nahar

È obvio que os evangelhos não serão nenhum romance… […quanto muito, um manifesto de propaganda…]
Mas porque razão deveremos acreditar neles como verídicos (?)… ou será que manter os crentes “iludidos” é a doutrina a difundir (?)… porque se encobre com tanto afinco a “historicidade”?... Porque razão só estes são considerados canónicos? Porque não conhecer os outros? (… afinal já existiam… Ireneu mencionou-os na sua “refutação”…)
E porque não mencionar o evangelho de Tomé, aquele que segundo algumas “autoridades” terá sido a fonte de inspiração…

Verifiquei que estarás a “cursar” teologia, o que te dará alguma vantagem em relação á maioria… mas será que na tua opinião deveremos manter a crença numa história alicerçada em dogmas?... (como futuro teólogo, sabes certamente que os primeiros cristãos ortodoxos se auto denominaram “guardiães” da verdadeira fé… mas o que é que define essa verdadeira fé?)
Será que na nossa relação com o “Divino”, necessitamos de intermediários… ou acreditar em “escrituras”, que começam hoje, …a serem debatidas?

A verdade acima de tudo… e depois os “crentes” optariam…
Sandra Dantas disse…
Porque não "estudas" ou te informas um pouco mais antes de dizer certas coisas?
Em primeiro lugar os quatro Evangelhos não são (apócrifos) mas sinópticos, os apócrifos são precisamente os outros que não são considerados canónicos... Talvez depois volte cá para te dizer algo mais. Agora já é tarde... Até breve!
Demo disse…
Sandra
O "lapso" está corrigido... obrigado por alertares.
Os apócrifos são aqueles que por conveniência a igreja não reconhece...
Fico á espera que digas mais qualquer coisa...
Sandra Dantas disse…
Acabei de colocar no meu blog um post sobre o cânone bíblico, podes lá ir consultar!
Depois colocarei mais coisas!
Até breve!

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