... ainda Pormenores...


No seguimento do post anterior e falando ainda sobre os relatos da vida de Jesus, os “Evangelhos levam-nos a acreditar que será uma “obra”, senão inspirada por Deus… pelo menos definitiva… (???)
[…mesmo que não se aceite a verdade literal ou histórica destes acontecimentos, basta geralmente aceitar o seu significado simbólico para se poder ser considerado cristão…]

No que diz respeito á tradição popular, a origem e nascimento de Jesus são bem conhecidos embora os evangelhos sejam vagos em relação a isso. Na realidade, apenas dois dos Evangelhos – Mateus e Lucas –, dizem alguma coisa sobre o assunto e estarão flagrantemente em desacordo um com o outro.
Segundo Mateus… Jesus era um aristocrata, senão mesmo um rei legítimo – descendente de David através de Salomão…
Segundo Lucas… a família de Jesus, embora descendente da casa de David, era de uma estirpe menos elevada…
As discrepâncias entre os Evangelhos não se limitam á questão dos ancestrais e da genealogia de Jesus…
Segundo Lucas… Jesus ao nascer foi visitado por pastores… a família de Jesus vivia em Nazaré, donde segundo ele, teriam viajado – devido a um censo que a história sugere nunca ter ocorrido na realidade –, para Belém, onde Jesus terá nascido na pobreza e numa manjedoura…
Segundo Mateus… Jesus ao nascer foi visitado por homens sábios… a família de Jesus, bastante abastada, sempre residira em Belém, e Jesus nasceu numa casa… (segundo a versão de Mateus, a perseguição de Herodes aos inocentes leva a família a fugir para o Egipto, e só ao regressarem estabelecem residência em Nazaré) …

A informação em cada um destes relatos é bastante específica e – presumindo que o censo ocorreu realmente –, perfeitamente plausível, contudo a informação em si mesmo não coincide. Sendo impossível racionalizar esta contradição, não haverá forma de as duas narrativas estarem ambas correctas, assim como não haverá forma de as conciliar.
Quer o admitamos, quer não teremos de reconhecer que um ou ambos os Evangelhos estarão errados e em face de uma conclusão tão flagrante e inevitável, os Evangelhos não podem ser considerados inimpugnáveis…
[… como podem ser inimpugnáveis se se impugnam um ao outro…]

Comentários

Maria João disse…
Para começar. Não vejo onde é que está escrito na Bíblia que Jesus era “um aristocrata, senão um rei legítimo”. De facto, está escrito que fazia parte da linhagem de David e Salomão, que foram, como se sabe, reis. Mas, também é sabido, que com o exílio da Babilónia houve muitas mudanças e quem ficou no trono após a reconquista foi Ciro, o rei da Pérsia. Além disso, quando se diz que Jesus é Rei é no sentido de que é Filho de Deus. Em nenhuma parte se diz que Ele ia ser rei, como o foi David ou Salomão.

Quanto ao Census, é perfeitamente plausível que isso tenha acontecido. Jesus nasceu na manjedoura, porque não havia espaço nas estalagens. Se chegou a hora de Ele nascer… Já vi uma criança nascer num hipermercado. Quando as crianças querem sair não há nada a fazer.

“Família de Jesus bastante abastada”… Onde é que isso está? Não vejo em lado nenhum. “Nasceu numa casa”… Também não vejo isso em lado nenhum.

Só por curiosidade, quem é Deus para ti?

Um abraço,
MJ
Sandra Dantas disse…
A tonalidade própria de cada um dos Evangelhos, a nível literário e teológico, faz com que eles sejam semelhantes, mas também diferentes entre si. Essa tonalidade tem origem no estilo de cada evangelista e na intenção teológica de responder às necessidades específicas da comunidade a quem dirige o seu Evangelho.
A Igreja aceitou apenas os Quatro Evangelhos, escritos entre os anos 60 e 100. Porquê apenas quatro?
Parece que desde o princípio da Igreja houve uma certa propensão para o uso de um único Evangelho. Isso não significa que se negasse a autoridade dos outros. Naturalmente, os cristãos vindos do Judaísmo preferiam o Evangelho de Mateus, escrito sobretudo para lhes falar da relação de Cristo com a Lei de Moisés (Mt 5,17-7,29). Talvez tenham utilizado este Evangelho em discussões com os outros cristãos vindos da civilização helenista, que sustentavam não ser necessária a observância da Lei de Moisés (AT).
Marcião é também um caso especial a este respeito: usa o Evangelho de Lucas por lhe parecer o Evangelho que fala do amor de Deus, presente entre os homens em Jesus Cristo; mesmo assim, elimina algumas partes onde esse amor não lhe parece evidente ou onde se fala do Antigo Testamento, que ele rejeitou em bloco.
O movimento gnóstico utilizou e manipulou sobretudo o Evangelho de João (ver Jo 14,2-3; 17,16).
Tassiano pretendia um compromisso entre as duas tendências (o uso de um único Evangelho e os quatro), harmonizando-os num só (o Diatesseron). Esta harmonização foi largamente seguida nas igrejas siríacas do Oriente, mas praticamente rejeitada nas igrejas ocidentais de língua grega e latina. De facto, fazendo dos Quatro Evangelhos apenas um só, destruíam-se as quatro teologias sobre Jesus, ficando apenas uma “História de Jesus”. Ora os Evangelhos são muito mais do que a História de Jesus.
Demo disse…
MJ
Como prometi...cumprirei.
Responder-te-ei brevemente... mas permite-me mais algum tempo...
Quanto ao meu "Deus" será provavelmente o mesmo que o teu... a diferença estará em que para manter uma relação com o "Divino"... não precisarei de intermediários...
E desde que me conheço, pensei sempre pela minha cabeça, concedendo sempre por razões de humildade e coerência, o beneficio da dúvida a todos quantos possam argumentar... (o que não será conveniente para a Igreja)

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