A liberdade e a crença I

As crenças são alavancas que fazem mover quase tudo na vida de uma pessoa. Definem a visão do mundo, ditam o comportamento e determinam as reacções emocionais em relação aos outros seres humanos.
Normalmente para quem vive num mundo a preto e branco é muito difícil discutir e aceitar ideias diferentes, o que corrói a possibilidade de discussão dessas mesmas ideias e inviabiliza o “pensamento livre”, isento e racional.

Alguns crentes, cujas ideias são constantemente desmistificadas, refutadas e contrariadas confundem (por conveniência) “pensamento livre” com “aquilo que gostariam que fosse verdade” e, quando confrontados com o erro do seu raciocínio, manifestam predisposição para promover a mentira adulterando o significado das coisas.
Este tipo de lamentos revela resíduos de intolerância porque “liberdade” significa coexistência de modelos e não a imposição de um em concreto.

“Pensamento livre” é questionar, é esclarecer dúvidas, é confrontar ideias e debatê-las. É saber porque razão determinado “ensinamento” ou suposto facto é negado pelos registos da história.
É o tipo de atitude que não consta do comportamento do crente onde tudo se rege cegamente pelas “directrizes” de um livro da idade média que sobrevive pela máxima: tudo é assim porque é assim e porque tem que ser assim.

O que os crentes lamentam nem sequer é falta de liberdade de expressão para debitar inanidades, o que eles pretendem é o direito á imposição (sem discussão possível) das suas ideias e delírios. Ou seja, pretendem que tudo seja aceite como verdade e sem debate.

Liberdade de expressão é a liberdade de exprimir, ensinar e promover em público, precisamente as ideias que não queremos ouvir, mesmo as que consideramos profundamente erradas ou desajustadas.

Mas é comum ouvir alguns crentes lamentar as escolhas da maioria das pessoas – que claramente não preferem o género de coisas que ele prefere –, sem perceberem que sempre que se defende que certas ideias não deveriam ser publicamente expressas, se está a atacar a liberdade.

A liberdade que, dadas as nossas limitações epistémicas parece a única alternativa sábia, para ser genuína tem de incluir estilos de vida que detestamos ou que nos incomodam.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Opção ou conveniência?

Acontecimentos marcantes / 2012 Novo

"Considerandos"