Suposta benevolência…

“Misteriosos são os desígnios do Senhor”.

Esta é uma das pérolas utilizada pelos crentes para fazer passar a ideia errada, de que tudo é aceitável e de igual valor, apenas com a intenção de transmitir uma mensagem, no mínimo, duvidosa e incoerente.

Algumas justificações, além de ridículas, revelam a inexistência ou incapacidade de pensamento dos crentes que, convencidos pelas falsas virtudes de um punhado de preconceitos, acabam por aceitar e promover ideias e atitudes que ultrapassam as fronteiras do que é racionalmente aceitável.

Para quem lê Deuteronômio 13:6-10 – na interpretação católica ou evangélica –, as dúvidas, quanto á existência de uma divindade benevolente, ficam esclarecidas de imediato. Um ser superior que exige o apedrejamento até á morte, de quem ponha em causa a sua existência ou doutrina, é certamente um promotor da paz e do amor.

O Maurílo, por exemplo, justifica estes versículos afirmando que: “Se Deus é nosso dono, se Ele é uma divindade, então, Ele tem total direito sobre nós. […] Se for Deus, Ele pode ditar seus preceitos sobre nós”.

Eu não sei se ignorar a ideia sanguinária do apedrejamento foi propositado mas, mesmo assim, a ideia de termos um dono admite a aceitação da escravidão. (Sugerido no Levítico).
Escravidão é decadência, é imoralidade, é o fim da dignidade humana. Escravidão é exclusão de direitos elementares, é opressão, é extinção da vontade própria. É o princípio do fim.

Se isto faz parte do curriculum de um ser superior venerado pelos crentes então, ficamos esclarecidos.

Comentários

Maurilo e Vivian disse…
Caro Demos.
É uma alegria ver que você voltou a escrever em seu blog. Assim podemos estender nossas agradáveis conversas para cá.
Então, você como todo bom ateu, resolveu usar o velho e já mais do que respondido argumento do “Deus tirano do Velho Testamento”. Muito bem.
Na verdade, esse é um caminho natural na vida de todo ateu que tem vindo nesse novo movimento ateísta, que confunde reclamação com argumento. Pena que nesse novo movimento não exista nenhum intelectual do peso de Antony Flew. Esse sabia argumentar e raciocinar. E a maior prova disso é que no final de sua vida chegou a conclusão óbvia: Deus existe.
Enfim, vamos responder ao seu texto. Se você considera algumas ações ordenadas por Deus no Velho Testamento como atrocidades, devo então entender que você aceita que Deus existe? Digo isso porque não faz sentido discutir as atrocidades cometidas por algo que não existe. Não faz sentido. Se você reconhece que Deus existe, então podemos ter essa discussão e se você estiver disposto a analisar as “atrocidades” cometidas por Deus dentro de seu próprio contexto histórico (e não a partir de uma perspectiva pós-iluminista, de onde aliás você tira sua definição de escravidão), vai perceber que não foram realmente atrocidades. Mas esse caminho é mais trabalhoso do que o que você vem tomando.
Mesmo falar em atrocidades não faz sentido se Deus não existe. Sem um legislador maior no qual podemos basear o que é certo e o que é errado, “atrocidades” não é nada mais do que uma questão de gosto, “eu não gostei disso que você fez”. Deixa de ser objetivo e passa a ser subjetivo. Ao gosto do cliente. Ou você por acaso estaria falando que existe algo intrinsecamente errado em relação a essas atrocidades? Se é intrinsecamente errado, no que você baseia tal afirmação? Sem Deus como legislador, só te sobram duas opções:
Genes: Se você acredita que os genes são responsáveis pela moralidade, me explique como algo além de cada um de nós (valores morais objetivos) pode estar programado dentro de nós? E se é genético, o que nos garante que o senso de moralidade dos antigos israelitas não estava de acordo com a constituição genética deles? E se essas atrocidades trouxeram algum benefício para a propagação da nação judaica? E se houve alguma mudança genética na nossa espécie que passou a achar que tais coisas são atrocidades? Se os genes são responsáveis pela moralidade, essa seria uma ilusão e atos feitos a muito tempo atrás podem muito bem ser condizentes com a genética daquela época. Se a genética define moralidade, certo e errado são ilusões e os antigos israelitas (e também o seu Deus) estão desculpados de qualquer “atrocidade”.
Sociedade: Se a moralidade é definida pela sociedade, um “construto social” como se diz, então como podemos julgar os atos dos israelitas antigos como atrocidades se foram cometidos por uma outra sociedade em um outro contexto social? E se para a sociedade israelita antiga apagar do mapa nações pagãs perversas fosse algo legítimo? Como poderíamos dizer que eles agiram de forma errada? Não seria isso uma forma do mesmo etnocentrismo que acusamos os antigos israelitas? Imagine o seguinte: as atrocidades cometidas no nazismo eram objetivamente erradas? Continuariam sendo erradas, mesmo que os nazistas tivessem vencido a guerra e feito lavagem cerebral em todo mundo para que todos aceitassem o nazismo como algo bom? Pois a sociedade alemã em sua maioria não condenou o nazismo enquanto governo estabelecido. Poderíamos dizer então que o nazismo foi errado só porque eles perderam a guerra?
Se você tira Deus da conversa, tudo é permitido.
Portanto, primeiro decida-se sobre a existência de Deus e depois eu te explico como as ordenanças de Deus no Velho e no Novo Testamento faziam sentido dentro de seu contexto histórico, já que a fé cristã é uma fé histórica e evidencialista.
Grande abraço e continue escrevendo. Um dia quem sabe você acerta.
Darius disse…
Apostar no cavalo errado é um risco que poderá ser humilhante.

Perdoa-lhe Demo que o Maurílo é bom rapaz.

Saudações
Demo disse…
Maurílo
[1/2]

Antes de comentar o seu comentário, que agradeço desde já, permito-me recomendar a leitura, já recomendada no seu blog , pelo meu amigo Darius, sobre os contornos de uma atitude religiosa numa suposta conversão de Anthony Flew, a uma ideia abstracta.

Para responder ao seu comentário seria recomendável fazer o ponto da situação, para sabermos do que estamos a falar.

No “esgrimir” de argumentos num post do seu blog, você, quando questionado sobre Deuteronômio 13:6-10 sugeriu, como algo normal, a aceitação da escravatura porque considerava que “… se Deus é nosso dono então tem total direito sobre nós…” .

Quando o questionei sobre a aceitação da escravatura, – em contraste com dignidade humana, direito humanos e liberdade –, o seu discurso veio em forma de argumentum ad hominem ou seja, de ataque pessoal.

Ignorando os argumentos em debate, e em resposta, “desenhou” o meu perfil da forma que lhe seria mais conveniente. Mas ignorou, por esquecimento ou conveniência que, nos tempos que correm, a formação intelectual (por isso o aumento dos não crentes) já permite distinguir entre a seriedade de um discurso isento e a demagogia de uma “gravação” formatada pela crença.
Demo disse…
Maurílo
[2/2]

Mas vamos lá então desmistificar esse seu comentário:

… resolveu usar o velho (…) argumento do “Deus tirano do Velho Testamento.

Eis a religião em todo o seu esplendor com a introdução, já gasta e esfarrapada, do “lobo mau” que pretende comer a avozinha. Ou do vilão que bate no pai.
Eu apenas questionei sobre o tipo de divindade que se diz benevolente e possui um curriculum onde constam tais barbaridades. A interpretação é da sua responsabilidade.

… devo então entender que você aceita que Deus existe? (…) porque não faz sentido discutir as atrocidades cometidas por algo que não existe.

Mais uma pérola com a intenção única de baralhar para confundir.
A discussão é feita tendo como base, os registos de uma ideologia impressos num manual de intenções. Discordar e criticar uma ideologia não implica obrigatoriamente o reconhecimento de um autor, até porque o dito compêndio terá sido elaborado e redigido por vário humanos.
Uma ideologia contém uma mensagem, ou várias, e quando a mensagem é negativa deve ser denunciada e combatida. A lapidação é uma insanidade infame.

Sem um legislador maior no qual podemos basear o que é certo e o que é errado, “atrocidades” não é nada mais do que uma questão de gosto, …

Mais tretas sem nexo só para proclamarem conveniências.
Aceitar a escravatura, concordando com o apedrejamento até á morte é inaceitável.
A moral e a ética são conceitos estruturados pela sociedade. A sua definição tem a ver com as convicções sociais e culturais que definem, dentro de determinados parâmetros, o certo e errado de acordo com as convicções dessa mesma sociedade.

A moralidade individual tem a ver com a formação cívica, cultural e intelectual de cada cidadão que considera a violência, sobre qualquer forma, como a arma do medíocre e o recurso a tal ferramenta inadmissível e intolerável.

Moralidade e religião não são sinónimos nem incompatíveis mas não são “parentes nem associados” e dizer que uma superstição e um punhado de preconceitos são capazes de distinguir entre o certo e o errado é fazer uso da mentira.
Que tipo de moral impede a liberdade de pensamento, limita as opções e convicções do ser humano? Provavelmente uma moralidade mutante (por conveniência) como a religiosa.

E se houve alguma mudança genética na nossa espécie que passou a achar que tais coisas são atrocidades?

Mudança genética tem a ver com “evolução”. A necessidade de uma melhor adaptabilidade requer algumas “alterações” dos genes para aumento das probabilidades de sobrevivência.
Fico agradavelmente surpreendido com o reconhecimento da “Teoria da Evolução”, em detrimento do senso comum. Continue progredindo que um dia vai compreender.

…a fé cristã é uma fé histórica e evidencialista.

Fé é só vontade de acreditar. Ponto final.
A história cristã está efectivamente recheada de factos bastante diferentes das ilusões concebidas pelas religiões que teimam em confundir realidade com histeria virtual.

Continue escrevendo
Maurilo e Vivian disse…
Olá Demo.
Nossa, você é bem mais educado aqui no seu blog do que no meu. Que engraçado. Gostei mais de você aqui do que lá.
Se você diz que eu usei ad hominem com você, não tenho como discordar porque você sabe muito bem como usar o ad hominem. Mas eu somente usei o mesmo tipo de argumento que você usou.
Na verdade, eu não quis pintar você de lobo mau. Na verdade, só quis mostrar que não existe nada de novo no novo ateísmo. Velhas reclamações mais do que respondidas, que hoje só continuam popular por causa da sua força retórica.
É, eu sei sobre a reportagem que diz que Flew ficou velho, senil, foi enganado, manipulado. Essa é a resposta que esperávamos dos ateus quando Flew se tornou teísta. Eu preciso um dia traduzir a entrevista do próprio Flew com Gary Habermas. Não que isso vá mudar a opinião dos ateus. Não acho que vai porque é uma questão de vontade, não de evidencia.
Se você acha que a moral é um costruto social, então você não pode julgar os antigos israelitas por nenhuma suposta atrocidades porque todas elas podiam ser toleráveis dentro da sociedade israelita antiga.
Não ignore meu argumento. Você não pode dizer que Deus não existe e Ele é um monstro. Para poder tentar chamá-lo de monstro você precisa primeiro ter uma base para a sua "moralidade". E se a sua base é a sociedade, os antigos israelitas não agiram por ordem de um monstro.
Releia meu texto. Tem várias coisas nele que explicam bem o porque seus argumentos não fazem sentido. Não é um pensamento tão complicado assim.
(E eu vou te contar um segredo: chamá-lo de religioso não tem o efeito que você acha que tem. Meu pensamento é religioso, sem dúvida. O seu é naturalista. Isso quer dizer que só porque é naturalista não deve ser considerado?)
Abraços.
Maurilo e Vivian disse…
Aproveitando, quero mandar um abraço para o Darius. Prazer vê-lo aqui.
Minha esposa e eu estamos pensando em ir para Portugal e se isso acontecer, gostaria muito de conhcer você dois pessoalmente.
Seria muito bom.
Abraços.
Maurilo e Vivian disse…
Este comentário foi removido pelo autor.

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