“Relativismo demagógico” ou “Demagogia relativista”?

A demagogia é a arte da manipulação do povo e é exercida por aqueles que, maliciosamente sabem vender uma mentira: os demagogos. Sabidos e de oratória fácil exploram os medos e os preconceitos populares para o conduzir por atalhos que nada têm a ver com o bem comum, apenas com a realização dos seus objectivos: a imposição de um estado submisso.

Uma das estratégias adoptadas pelos crentes na defesa das suas convicções é o uso de posições e argumentos filosóficos como forma de baralhar para convencer. Pura demagogia.

Depois de eu ter defendido que a “moral” não tinha nada a ver com divindades e que era apenas um conceito cuja definição teria a ver com as convicções sociais e culturais de um povo, o Maurílo procurou defender a sua posição desta forma:

Se você acha que a moral é um costruto social, então você não pode julgar os antigos israelitas por nenhuma suposta atrocidades porque todas elas podiam ser toleráveis dentro da sociedade israelita antiga.

Traduzindo á letra o que ele pretendeu dizer foi que: diferentes povos têm diferentes códigos de comportamento, e só um certo tipo de ignorância ou soberba poderá fazer alguém pensar que o código de comportamento da sua sociedade ou comunidade é correcto, sendo todos os outros incorrectos.

Esta atitude surpreendeu-me pelo facto do autor assumir o “relativismo cultural” : a ideia de que todas as acções são correctas ou incorrectas consoante são consideradas correctas ou incorrectas numa dada cultura. Não sabia que ele se assumia como relativista.

Este é um argumento que pretendo contrariar dizendo ao Maurílo que ele está equivocado. E começo por considerar que ao defender a tolerância de culturas alheias, ele denuncia uma enorme incompreensão do conceito de tolerância porque uma pessoa não pode exercer qualquer tolerância quanto a um estilo de vida alheio se não puder condenar esse estilo de vida.

Para percebermos o argumento apresentado temos que perceber que ele parte da ideia de que diferentes comunidades ou culturas consideram correctos diferentes comportamentos, concluindo-se assim que não haverá padrões universais do correcto e do incorrecto.
Vejamos então:

Apesar de ser verdade que muitas pessoas em muitas culturas pensaram que a Terra estava imóvel no centro do universo, outras pessoas noutras culturas pensam que a Terra não está imóvel no centro do universo, dessa discordância de opiniões não se segue que a posição e movimento da Terra é relativa às culturas — ou seja, não se segue que a Terra ora se move ora não se move consoante as pessoas acreditam ou não nisso.
Pelo facto de várias comunidades ou culturas ao longo da história considerarem correctas diferentes afirmações sobre a Terra não se pode concluir que não há afirmações universalmente verdadeiras ou falsas sobre a Terra.

Noutro exemplo, se tivermos em conta que em quase todas as sociedades humanas já se torturaram crianças por prazer, mas não como norma de comportamento, comummente aceite, e sim como um desvio comportamental fortemente condenado, acabamos por concluir que em nenhuma sociedade humana é moralmente permissível torturar crianças por prazer.

Podemos assim considerar que o argumento é inválido porque afinal existirão padrões universais do correcto e do incorrecto.

Ao pretender “entalar-me” o Maurílo esqueceu-se da “ética” , que é o estudo cuidadoso das razões a favor ou contra a nossa conduta.

Comentários

Maurilo e Vivian disse…
Olá Demo.
Estou maravilhado com o que você fez aqui. Você realmente evitou os meus argumentos, ou pior ainda, você não os entendeu. No final das contas, você foi mais demagogo do que eu, pois, além de fazer um homem de palha do meu argumento, o representando de forma errada, você montou uma estrutura na qual, seja lá o que for que eu tivesse escrito, o seu leitor já teria certeza da minha demagogia. Somado ao meu homem de palha, você realmente se demonstrou muito bom em demagogia.
Eu sei que seu treinamento em filosofia é limitado, mas todo argumento é filosófico em sua origem e estrutura. Pode-se trazer dados de suporte de outras áreas do conhecimento, mas os seus argumento são filosóficos. Por favor, não cometa o mesmo erro de Stephen Hawking que declarou que a filosofia está morta e depois passa o resto do tempo em seu novo livro fazendo afirmações filosóficas. As pessoas percebem isso.
Eu não sou um relativista moral. Muito pelo contrário. Eu acredito que existam padrões morais objetivos. A diferença é que eu tenho como fundamentar esse padrão moral em um Legislador, que nos deu esse padrão. Eu nunca me declarei relativista.
Agora, a sua posição é que termina no relativismo. O que eu fiz em meus comentários, e que pelo jeito você não entendeu, é pedir para que você seja coerente com suas convicções.
Você diz que Deus não é necessário para fundamentarmos padrões morais. Muito bem. Então, eu te dei duas opções como fundamento: evolução ou sociedade. Você adotou a sociedade. Você mesmo disse que “a moral e a ética são conceitos estruturados pela sociedade. A sua definição tem a ver com as convicções sociais e culturais que definem, dentro de determinados parâmetros, o certo e errado de acordo com as convicções dessa mesma sociedade”. Essas são as suas palavras.
Portanto, para você, aquilo que a sociedade determinar, é o que é moral. Ou seja, é algo subjetivo, relativo à aquela sociedade. Ou seja, você é o relativista aqui.
Mas você age como se acreditasse em padrões morais objetivos. Como isso é possível? Não faz sentido. Você está sendo incoerente.
Se a sociedade determina a moral e a ética, uma sociedade só pode ser julgada como imoral dentro dos próprios padrões dessa sociedade. Esse é o seu ponto de vista levado ao extremo. Mas você evita isso porque, se for realmente pensar sobre suas convicções, vai perceber que elas são conflitantes.
Não é possível negar a existência de padrões morais objetivos e depois usá-los para julgar os outros.
E é isso que você está fazendo.
Demo, por favor, seja coerente. Se vai acreditar em padrões morais objetivos, você precisa fundamentá-los em algo mais sólido do que as mudanças das sociedade. Você está querendo fazer um fundamento em areia movediça.
Ou então, reflita melhor e veja que a existência de padrões morais objetivos que você já deixou claro que existem (já que está disposto a julgar uma outra sociedade como moral ou imoral) aponta para a existência de um Legislador maior que implantou todas esses padrões em nós.
Não fuja que é feio. Eu estou chamando você a ser coerente com suas visões de mundo.
A demagogia aqui não vai salvá-lo. Nem em seu blog.
Demo disse…
Maurílo
[1/2]

O formato em zig-zag, do seu discurso, com a intenção de baralhar é redutor.
Eu admiro o seu “jogo de cintura” para assumir os argumentos dos outros, quando estes desmistificam os seus, e atribuir aos outros a responsabilidade dos seus argumentos caducados.
Por isso escrevi sobre demagogia e aqueles que a promovem, mas você, como verdadeiro crente com os neurónios anestesiados pela fé, nem percebe que expõe o seu insuficiente amor pela verdade.

Quem lê seus comentários percebe exactamente o que você pretende, independentemente das acrobacias e truques de ilusionismo usados á posteriori, para justificar o contrário.
O fundamentalismo não permite a admissão de erro. A falta de inteligência também não.

Apesar de o “meu treinamento” em filosofia ser limitado, proponho-me expor a fragilidade do seu discurso reescrevendo o seu argumento, ou melhor, a questão que coloca.

Se você acha que a moral é um costruto social, então você não pode julgar os antigos israelitas por nenhuma suposta atrocidades porque todas elas podiam ser toleráveis dentro da sociedade israelita antiga.

A análise dos pontos seguintes será feita com base neste argumento registado acima.

Eu não sou um relativista moral. Muito pelo contrário.

Quem é que acredita em valores morais estabelecidos pela hierarquia de uma “sociedade” (minoritária) sem respeitar as convicções dos outros? Uma “seita” que, segundo critérios duvidosos e não reconhecidos, estabelece as fronteira da moral e do correcto?
Não sou eu, certamente.

Eu acredito que existam padrões morais objectivos. A diferença é que eu tenho como fundamentar esse padrão moral em um Legislador, que nos deu esse padrão.

O seu “legislador” é apenas seu e da sua “tribo” porque, outras comunidades não reconhecem autoridade a tal figura. Se você acredita que os valores definidos pelo “clã” em que está inserido são os correctos, independentemente dos outros não concordarem, então você é o quê? Relativista, ou não? [É claro que você é crente].
Demo disse…
Maurílo
[2/2]

Portanto, para você, aquilo que a sociedade determinar, é o que é moral.

O uso das palavras como justificativo de conveniências é demagogia. É neste zig zag de definições e interpretações convenientes que a teia vai sendo construída.
Quem diz isso é você, no seu argumento. Você diz que eu não posso julgar nenhuma suposta atrocidade (…) porque podiam ser toleráveis dentro da sociedade israelita antiga.

Eu apenas defini que moral tem a ver com costumes e cultura mas nunca afirmei que as supostas opções morais seriam ou não correctas. Aliás, segundo este post, fica bem clara a minha opinião de que os valores não são relativos.
Você pensa que sim, que são relativos á “seita” em que está inserido.

Se a sociedade determina a moral e a ética, uma sociedade só pode ser julgada como imoral dentro dos próprios padrões dessa sociedade.

Este tipo de acrobacia ou truque de ilusionismo revela desatenção ou má fé.
Segundo o que escrevi, a sociedade define a moral. A ética é outra coisa que eu tive o cuidado de esclarecer: é o estudo cuidadoso das razões a favor ou contra a nossa conduta.
As atitude de qualquer sociedade poderão ser julgadas, segundo padrões de ética, por quem quer que seja.

Maurílo, religião é um pântano de ilusões que tenta vender qualidade de vida numa (outra) vida que ninguém conhece (nem voltou para contar). Se você considera isso um valor, ficamos esclarecidos sobre o “produto” que pretende impingir.
Além disso, se apostasse na coerência, a religião que você apregoa, deixaria de viver não só pelos registos da história, mas também pela fragilidade irracional dos seus argumentos.
Não se esqueça que na Europa, o criacionismo está moribundo, definha, e só não morreu porque é tolerado pelos cuidados paliativos.
Só a razão sobrevive sã e desafogada de mãos com a coerência.

Seja honesto consigo mesmo (e com aqueles que se dispõe a ler o que publica,) evitando uma das características prioritárias da religião, a duplicidade intelectual.

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